Cronica do Amor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, pois caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca, pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera. Você gosta de samba e ela de MPB, você gosta de praia e ela tem alergia a sol. Então? Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome. Amor. Vejamos: você é inteligente, lê livros, revistas, jornais, gosta de bons filmes, boa música. É bonita, independente, tem emprego fixo, e cozinha bem. É dona de um ótimo humor e não pega no pé de ninguém. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor? Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: Eu simpatica + Você inteligente = dois apaixonados. Infelizmente não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas, boas mães e pais de família, tá assim, ó! O lastimável, é que são poucos os que hoje, ainda notam essas pequenas porém gritantes qualidades. Pense nisso. (Arnaldo Jabor)