O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, em um domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente...no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado... e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg... o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina... Acaba nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada... Uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou... na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido... mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada... na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.
(Crônicas Líricas e Existenciais - Paulo Mendes Campos)
Trechinhos tirados da Crônica acima citada, puro, simples e verdadeiro... Chocante em algumas palavras "as vezes acaba como se fora melhor nunca ter existido"... Aqui dá pra pensar bastante...
Saldo do dia: Frio, saúde em recuperação e tranquilidade!
ઇઉ